Algum tempo depois desde minha última morte; desde o último texto. Meu último velório já se tornou lembrança apagada aos poucos que presenciaram. Mas aqui estou de novo. Choro ao som do piano. Chorei copiosamente com um vídeo sobre como lidar com anedonia. Não sei quanto tempo faz desde minha última morte ser causada pela lembrança de A. ou H. e também não sei se há qualquer indicativo de melhora ou superação nisso. Pois estive consumida pelo pânico induzido por drogas prescritas pela Psiquiatria, a mais esperta das vis raposas que se declara capaz de manipular e conter os átomos e suas fissões dentro dos núcleos de minhas neuroses.
Não houve registros de minha vitoriosa luta contra esta concatenação caótica e maléfica de sucessivos decaimentos atômicos. Mas venci. Este é o registro. Chorei de pânico por quimeras do passado e isso me bastou, de alguma forma e por algum motivo. Os átomos se alinharam por tempo suficiente para eu atingir o limite de minha própria miséria. Mas não significa que ela tenha acabado. Significa que meu sofrimento adquiriu mais uma face: o sofrimento de querer mas ainda ser incapaz de alterar as forças nucleares. O sofrimento de negar meus próprios pensamentos. A cada segundo. O dia inteiro. Todos os dias. Temo também viver mais um processo de apagamento do meu eu, o qual nunca senti existir. Como se a única coisa que me trouxesse sensação de vida fosse morrer cotidianamente, pois só morre quem está vivo.
Choro ao som do piano. Chorei copiosamente com um vídeo sobre como lidar com anedonia. Isso acontece agora. Começou uma hora atrás, talvez. O vídeo propôs algo coerente, mas ininteligível para mim.
Choro ao som do piano. Mas esta não é mais uma morte. Recuso morrer de novo. Sofro profundamente e me arrependo de tudo que vivi e sou e quero ser. A miséria ainda parece permanente. O Vazio diluvia sobre meu coração. Tudo doi e é assustador. Mas não quero morrer de novo. Escrevo isso como forma de injetar na força bruta uma outra realidade em meu cérebro. Este texto é os tubos de grafite moderadores de neutrons dentro do reator neurológico com o qual Deus me amaldiçoou.
03/10/2025
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