Primeiro o álcool, depois a janta. Despede-se, dessa maneira, a consciência de forma mais rápida e barata. Há o truque de doar sangue antes de algumas doses, mas, claro, não é tão simples doar sangue quando se está de pijamas em casa. Pensei em meramente drena-lo. Em casa, na pia. Meus braços pareceriam de viciada, eventualmente. E eu realmente tenho muita angústia com agulhas. Tomei as vacinas de gente grande e foi pavoroso. Não choro nem me desespero; há muitos estados de angústia entre o desmaio e a neutralidade pacífica.
Destes muitos estados entendo bem. Entre o mero viver apático e o suicídio há uma magnífica variedade no sofrimento, quase como se a miséria fosse cuidadosamente talhada por uma entidade superior. É quase belo o refinamento da desgraça e suas densas camadas. Muito amor foi colocado, pelo nosso criador, na capacidade de desejar a morte. Neste ínterim resta nossas humanas convulsões e fábulas, a Psicologia e suas colegas as maiores delas.
Ainda me resta sem resposta, por parte de profissionais da letra grega, qual o sentido em suas propostas de perdurar uma vida na qual se experiencia somente a tragédia cotidiana cujo único fruto é o alcoolismo. Terapias e remédios perigam somente me jogar ao consumo de heroína, pois me obrigam a viver nesta bosta: não podem modificar os fatos que me consomem e me são, epistemologicamente, fundamentais para que eu possa julgar, da vida, algum valor. Não operam revoluções anticapitalistas. Não mudam o passado, o presente ou futuro. Não mudam meu entendimento, pois este é fruto da repetida experiência e à esta profissão resta somente a retórica. São, fundamentalmente, sofistas. Pago para quem me diga do contrário. Pago para quem me faça acreditar em algo. A esperança é uma commodity.