Não viste como foi Belo? Não reconheceste a poesia no momento quem Tim Maia anunciava por mim as palavras que foram tuas e três anos depois as anunciaria para ti, como se tu ainda estivesse diante de mim?
(Deus, como pôde nos fazer criaturas tão distantes, eu e ela, e nos colocar frente a frente? Que cruel empresa vós empenhais contra mim? Se tudo podes, porque não me reservastes o coração dela? Porque não a fez ver o Belo como eu vi?)
Como tu não pode ver o Belo naquele momento em que Tim Maia disse que eu te amava? Quanto mais te faltou para sentir a graça do amor? Eu cobriria qualquer quantia e me aniquilaria, como agora me aniquilo com tua lembrança, em troca de tua capacidade de enxergar o Belo. Minha desgraça está provisionada de qualquer forma, poderia ter servido a ti, em nome do amor, mas agora serve somente ao álcool e às lágrimas e não entendo como Deus pode ser bom e divino se permite algo tão verdadeiro se tornar tão daninho. O Mundo opera pela falsidade e a eternidade do Criador se manifesta pelo desprezo.
E tu desafiaste a ruindade do mundo e me trouxeste tanta beleza. Trouxeste toda a beleza. E já não havia mais diagnóstico psiquiátrico, pílula ou doença. E eu trabalhava para que pudesse estar comigo, longe de toda a ruindade do mundo. Mas só eu vi o outro lado; só eu venci os tentáculos de Deus. E eu queria ter a capacidade que teve em causar tanta beleza, apesar do mundo. E este lamento é tanto saudosista quanto egocêntrico, pois se eu tivesse tamanho poder em desafiar a tragédia do Mundo, eu seria feliz e não me lembraria de ti. E eu seria feliz e eu seria o Belo e eu seria quem carrega a primavera na vida de quem tanto doi. Eu queria ser como tu, H.. Eu queria ser o espírito do absoluto contra o qual tudo se apequena e todo o sentido aponta, mas sou apenas capaz de esperar por quem me traga este sonho e tu me trouxeste e levaste embora e só me sobrou a aridez do Mundo de Deus. Eu nem sei se tu existe ou se fosse apenas mais uma quimera de quem carrega a sede e a seca.
Talvez eu quem seja a verdadeira obra do Mau Deus e eu quem deva espalhar a desgraça na vida das mais belas criações que escaparam a Seus vulcânicos olhos. Eu sou o anjo caído cuja missão é destroçar a Beleza de Tim Maia e tua beleza, e eu peço perdão e eu te imploro que me perdoe pois eu não sabia que eu era tão horrenda e eu julguei que poderia te trazer o que me trouxeste. Soubesse eu do meu desígnio como fogo fátuo, nunca tinha te encontrado e nunca tinha te queimado como tu me queimaste com tua beleza. Se sou água, és vinho e a transformação que Cristo opera de um pro outro não é uma fábula de graça, é a fábula de que tu só existe mediante minha aniquilação. És o objeto da dança e da comunhão; sou o destroço da força de Deus. És o fruto das gerações de borboletas e abelhas que criam o mel e espalham s doces aromas das parreiras. És a cor da flor da primavera e o anúncio da colheita. És o exercício da vida e o resultado do trabalho e das mãos humanas que criam e fantasiam e sonham e extraem o suco e a essência da natureza nos poemas.
Fico feliz que fugiste de mim: Eu sou a Morte e odeio meu ofício.